Autora: Beatriz Helena Lovizaro (psicóloga da Psicol)

Em tempos de pandemia, como se vive hoje, a sensação de vulnerabilidade se torna presente em todos os aspectos, sejam eles físicos, sociais ou psíquicos. Físicos pelo risco que é apontado para a saúde; sociais devido às relações de convivência (ou restrições à convivência) e psíquicos pelo sofrimento emocional relacionado à sensação de exposição.
Repentinamente, palavras como vulnerabilidade, aglomeração e quarentena vem sendo utilizadas de uma forma recorrente. Segundo Mahayana Godoy, em uma matéria para o jornalista César Gaglioni (2020), a forma recorrente que são mencionadas estas palavras é parte da evolução da língua portuguesa e traz intensidade em seu uso, por isso ficam mais presentes no cotidiano.
Porém para cada “tipo” de vulnerabilidade, há um tipo de cuidado. Alguns estão ao nosso alcance e outros estão no âmbito social. A vulnerabilidade social, como apontada na pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (2020), traz fortemente os riscos de trabalhadores brasileiros no período da pandemia, devido à permanência da rotina em empregos, o risco à saúde pela exposição e contato com outras pessoas e a desigualdade social. No cuidado físico e psíquico, há uma maior possibilidade de controle individual, portanto, uma sensação de “controle”.
Em relação à vulnerabilidade física, ou seja, da saúde, há o controle individual dos cuidados indicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), como o isolamento social, higiene e uso de materiais de proteção (álcool gel, máscara). A vulnerabilidade psíquica (emocional) também é possível de ser cuidada, pois sempre esteve em nosso cotidiano. Por exemplo, ao iniciar um novo emprego, um novo amor, uma nova amizade, não se tem o controle de como será essa nova situação e o que vem adiante. Vivencia-se então a sensação de vulnerabilidade.
A vulnerabilidade de forma emocional (psíquica) traz a ideia de delicadeza, fragilidade, insegurança e instabilidade. Em estudos acadêmicos sobre saúde emocional e social, o sujeito vulnerável é apontado estando em uma situação que ainda não correu riscos ou teve consequências, mas que estas ainda podem acontecer (Guareschi et al, 2007). É estar em uma situação de exposição e risco.
Em 2010, a pesquisadora Brené Brown, cientista social da Universidade de Houston nos Estados Unidos, realizou uma pesquisa sobre “O Poder da Vulnerabilidade”. Nessa pesquisa, a autora mostra que as pessoas que não tem medo de se aceitarem vulneráveis são as que apontam maior característica de coragem. Isso ocorre pois ao se aceitar mais vulnerável a situações novas e se desafiar a um novo contexto, nos permitimos ter criatividade para que os problemas sejam solucionados, levando à coragem para seguir os planos e realizar o que desejamos. Ao realizarmos nossos planos ficamos mais felizes e realizados na vida.
Mostrar-se perfeito a todo momento é mais confortável do que assumir as dificuldades e fragilidade, por isso há vergonha em estar vulnerável. Isso traz a compreensão do porquê há tanto sofrimento, de todas as formas, de várias pessoas ao nosso redor. Este processo de aceitação de que há um momento difícil que pode ser cuidado traz a sensação de pertencimento, o que, segundo Brown, também é uma característica que nos dá coragem para o novo desafio.
Cada pessoa conseguirá se perceber de uma forma neste momento, algumas mais entristecidas, outras mais calmas, outras ansiosas. Contudo, como já existe a convivência com tais situações novas durante toda a vida, temos recursos para lidar com essa nova fase. A terapia é uma das formas de compreender a própria vulnerabilidade e trabalhá-la, pois, ajuda a esclarecer quais são as fragilidades desse momento.
A coragem para este momento é se permitir demonstrar o que sente, assumindo suas necessidades e as colocando de forma racional para o melhor cuidado, pois a vulnerabilidade também é um valor psicológico.
Referências:
Brown, Brené – A coragem de ser imperfeito – Tradução Joel Macedo. Edição 1. Editora Sextante, 2016.
César Gaglioni, Como a pandemia expandiu nosso vocabulário, Nexo Jornal LTDA. 12 de maio de 2020 Disponível em . https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/05/12/Como-a-pandemia-expandiu-nosso-vocabul%C3%A1rio Acesso em 01de agosto de 2020
Efeitos da pandemia acentuam vulnerabilidade de trabalhadores brasileiros. Jornal da USP, 23 de abril de 2020. Disponível em
https://jornal.usp.br/atualidades/efeitos-da-pandemia-acentuam-vulnerabilidade-de-trabalhadores-brasileiros/ Acesso em 01 de agosto de 2020
MAGGI, A. et. al. Vulnerabilidade, saúde mental e clínica-escola: uma resposta de atenção à população, 2016 Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942016000200007 Acesso em 01 de agosto de 2020
Comments